Existe uma experiência conhecida como "Cirurgia de Cisão do Cérebro", que de fato aconteceu cujas primeiras pesquisas foram realizadas por Gazzaniga.
Nesta experiência, as conexões nervosas entre os dois lados ou hemisférios do cérebro são rompidas na tentativa de controlar uma epilepsia grave. Nas primeiras pesquisas realizadas, os dois lados não podem mais se comunicar. E como as funções da linguagem no cérebro em geral situam-se no hemisfério esquerdo, o indivíduo é capaz de falar unicamente daquilo que o hemisfério esquerdo conhece.
Ao apresentar estímulos no hemisfério direito, a pessoa submetida a esse tipo de cirurgia não conseguia descrever verbalmente de que estímulo se tratava. Mas o hemisfério direito tendo a oportunidade para reagir, ficava o registro de tal, sem, contudo a pessoa não conseguia falar sobre. Como exemplos: se a mão esquerda, que envia informações táteis ao hemisfério direito, for inserida num saco cheio de objetos, ela será capaz de buscar entre eles aquele que corresponder a imagem vista pelo hemisfério direito. Do mesmo modo, o hemisfério direito complementa a sensação tátil do objeto com a lembrança de sua aparência alguns momentos antes, e a mão esquerda pega o objeto certo. A mão direita não consegue fazer isso porque suas informações táteis vão para o hemisfério esquerdo, que não viu o objeto. Assim, é possível dizer que as informações levadas até um dos hemisférios permanecem aprisionadas nesse lado do cérebro e não está ao alcance do outro lado.
Havia um paciente considerado especial porque, ao contrário da maioria, este era capaz de ler palavras em ambos os hemisférios, mas como os demais, só conseguia falar através do hemisfério esquerdo. Então, quando o hemisfério esquerdo era submetido a estímulos emocionais, este paciente conseguia dizer qual era o estímulo e como ele o sentia (indicando se significava alguma coisa boa ou má). Quando os mesmos estímulos eram apresentados ao hemisfério direito, o hemisfério esquerdo falante era incapaz de dizer de que estímulo se tratava.
Todavia, um fato interessante sobre esse contexto de "cérebro e emoções" é que o hemisfério esquerdo conseguia avaliar corretamente se o estímulo captado pelo direito era bom ou ruim. Exemplo, quando o hemisfério direito viu a palavra "mamãe", o esquerdo avaliou como "boa" e quando o direito viu a palavra "diabo", o esquerdo classificou como “mau”.
O hemisfério esquerdo não tinha a menor ideia de quais estímulos estavam em jogo. De alguma maneira, o significado emocional do estímulo "vazou" para o outro lado do cérebro, mas não a identidade do estímulo. De alguma maneira a cirurgia não impedia a transferência dessas informações para o lado esquerdo. O hemisfério esquerdo estava realizando avaliações emocionais sem saber o objeto da avaliação. Em outras palavras, a produção emocional acontecera fora de sua esfera de consciência (isto é, inconscientemente).
Esta experiência cirúrgica revelou algo muito importante: uma dicotomia psicológica fundamental entre pensamento e sentimento, entre cognição e emoção. Um lado (direito) do cérebro mostrou-se incapaz de transmitir suas ideias sobre a natureza do estímulo ao outro lado (esquerdo), mas conseguiu transferir o significado emocional do estímulo.
Isto nos faz pensar sobre diversos casos onde costumamos ouvir frases como “agir com emoção”. Neste tipo de frase vivenciamos situações onde o indivíduo ignora fatos, racionalidade e lógica para determinar uma ação que considera importante no momento.
O que emoção tem a ver com a descoberta dessa cirurgia de cisão?
Ora, são as emoções os fios que interligam a vida mental. São elas que definem quem somos nós, para nós mesmos e para as outras pessoas. O que poderia ser mais importante do que entender como o cérebro nos torna felizes, tristes, assustados, desgostosos ou satisfeitos?
Vou ilustrar com uma pequena história:
Todos já devem ter ouvido ou lido uma história (REAL), onde um pai ou uma mãe (ou ambos) sacrificaram suas vidas, em um momento desesperador, para salvar a vida de um filho. Estas histórias de pais cujo último ato heroico é assegurar a sobrevivência de um filho capta um momento de coragem quase mítica. Sem dúvida, esse tipo de acontecimento se repetiu inúmeras vezes na história da humanidade.
Visto da perspectiva dos biólogos evolucionista, esse auto-sacrifício paterno e materno está associado ao "sucesso reprodutivo" na transmissão dos genes a futuras gerações. Mas na perspectiva de um pai e de uma mãe que tomam uma decisão desesperada, num momento de crise, nada mais é do que amor. Visto do intelecto, pode-se dizer que o auto-sacrifício deles foi irracional; visto do coração, era a única escolha a fazer.
No fim, este ato exemplar de heroísmo, dos pais para os filhos, atesta o papel do amor altruísta e todas as outras emoções que sentimos na vida humana.
Uma visão da natureza humana que ignora o poder das emoções é lamentavelmente míope; pois sabemos, por experiência, que quando se trata de modelar nossas decisões e ações são as nossas emoções que nos guiam quando enfrentamos provações e tarefas demasiado importantes e assim deixa para o intelecto apenas o perigo. Todo o resto é tomado pelas emoções como "a grande decisória": a dor de uma perda, a persistência numa meta apesar das frustrações, a ligação com um companheiro, a formação de uma família, etc. O sentimento conta exatamente o mesmo e muitas vezes mais que o pensamento. Para o melhor e o pior, a inteligência não dá em nada, quando as emoções dominam.
Referência: O cérebro emocional: os misteriosos alicerces da vida emocional. Escrito por Ledoux, Joseph - 2001. (sobre “cirurgia de cisão do cérebro”).
Leia mais sobre O Cérebro Emocional aqui.