A ideia de que mente e corpo são entidades distintas e separadas remonta aos antigos gregos, mas foi o filósofo René Descartes, do século XVII, o primeiro a descrever em detalhes a relação entre corpo e alma.
Foi em seu primeiro trabalho filosófico, De Homine (Do Homem, 1633), que apresentou o dualismo entre mente e corpo: a mente imaterial, ou “alma”, faz o seu trabalho de pensar, instalada na glândula pineal do cérebro, enquanto o corpo é uma máquina operada por “espíritos animais”, ou fluidos, que percorrem o sistema nervoso, provocando os movimentos.
A glândula pineal é a “sede do pensamento” e, portanto, deveria ser a morada da alma, uma vez que não se pode separá-los. Isso era importante, porque do contrário a alma não estaria conectada a nenhuma parte sólida do corpo, mas apenas aos espíritos psíquicos.
Descartes imaginava mente e corpo interagindo por meio da percepção dos espíritos animais que supostamente fluíam pelo corpo. A mente, ou alma, residente na glândula pineal, no fundo do cérebro, era por vezes capaz de perceber o movimento dos espíritos, fato que provocava uma sensação de consciência.
Dessa forma, o corpo podia afetar a mente. A mente podia afetar o corpo da mesma maneira, estimulando um fluxo maior de espíritos animais para uma região específica do corpo, assim, provocando uma ação.
Uma analogia para a mente
Descartes se inspirou nos jardins simétricos de Versailles, com seus sistemas hidráulicos levando água para os jardins e suas fontes elaboradas. Então, pensou que da mesma forma os espíritos do corpo comandavam os nervos e músculos como a força da água e, “dessa forma, provocavam movimento em todas as partes”. Como as fontes eram controladas por um encarregado, nesta analogia o encarregado é a mente: “há uma alma racional nessa máquina; sua sede é o cérebro, que atua como o encarregado da fonte que precisa permanecer no reservatório, com todos os canos da maquina a postos, quando quer estimular, interromper ou alterar o fluxo da água nos canos”.
Embora filósofos continuem a discutir se cérebro e mente são entidades diferentes, a maioria dos psicólogos equipara a mente às funções do cérebro. No entanto, em termos práticos, é complexa a distinção entre saúde mental e corporal: as duas estão extremamente ligadas, considerando-se que o estresse mental pode causar dores físicas e o desequilíbrio químico afetar o cérebro.
Contexto: Dualismo mente e corpo
Antes:
- Século IV a.C. O filósofo grego Platão afirma que o corpo pertence ao mundo material, mas a alma (ou mente) pertence ao mundo imortal das ideias.
- Século IV a.C. O filósofo grego Aristóteles diz que alma e corpo são inseparáveis: a alma na verdade pertence ao corpo.
Depois: - 1710 Em Tratados sobre os princípios do conhecimento humano, o filósofo anglo-irlandês George Berkeley afirma que o corpo é apenas percepção da mente.
- 1904 Em Existe consciência?, William James defende que a consciência não é uma entidade separada, mas uma função de experiências particulares.
René Descartes
René Descartes foi um filósofo, físico e matemático francês.
Notabilizou-se sobretudo por seu trabalho revolucionário na filosofia e na ciência, mas também obteve reconhecimento matemático por sugerir a fusão da álgebra com a geometria - fato que gerou a geometria analítica e o sistema de coordenadas que hoje leva o seu nome. Por fim, foi também uma das figuras-chave na Revolução Científica.
Descartes, por vezes chamado de "o fundador da filosofia moderna" e o "pai da matemática moderna", é considerado um dos pensadores mais importantes e influentes da História do Pensamento Ocidental.
Inspirou contemporâneos e várias gerações de filósofos posteriores; boa parte da filosofia escrita a partir de então foi uma reação às suas obras ou a autores supostamente influenciados por ele.
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