Procurar pela felicidade é como procurar por algo em todos os lugares, exceto em um. E é justamente neste último que nunca olhamos que se encontra o que procuramos. Por isso nunca conseguimos achar.
Na caminhada da vida gastamos boa parte de nossa infância e, principalmente, adolescência preocupando-nos com o que outros vão pensar. Por causa disso criamos as famosas "máscaras sociais". Essas “máscaras", ao contrário do que muitos pensam, elas não são um símbolo da falsidade, elas são nossa adaptação ao meio que vivemos. Por isso temos uma "máscara" para cada situação social: uma para a família, uma para os familiares, uma para amigos, outra para conhecidos, uma para o trabalho, etc.
Quando nos tornamos adultos já estamos tão acostumados com nossas máscaras sociais que elas já são parte de nós, uma representação legítima de nossa personalidade.
Um fato curioso sobre a palavra "pessoa" é sua origem latina: persona (personagem), que era um termo designado as máscaras que os atores da tragédia grega usavam para desempenhar seu papel e ampliar suas vozes. Portanto, "pessoa" significa persona e persona significa máscara que representa um papel e nos amplia a voz. Quando dizemos "fulano é uma boa pessoa", podemos assimilar ao sentido de que "fulano sabe usar sua máscara social para o bem".
Em nosso momento adulto, além de continuarmos a nos preocupar em como os outros nos enxergam (ou como enxergam nossas máscaras sociais), nós ainda damos importância aos números, aqueles que são vistos como autoridades no assunto: ao diploma ao invés do conhecimento e sabedoria; a uma demonstração visual de prova de amor ao invés do que realmente sentimos no coração.
Um exemplo de como cada vez mais nos distanciamos de nós mesmos e os números passam a ser mais e mais relevantes: Entre em sua rede social favorita na Internet ou ligue sua TV, ou ainda procure por notícias. Certamente você acabará topando com algo como "a foto com não sei quantos milhões de views", "o vídeo mais acessado do fim de semana", "a imagem que recebeu em um dia mais curtidas", etc. Esse tipo de informação prova que nosso mundo e nós mesmos damos cada vez mais importância para a quantidade. No entanto, negamos isso até morte. Colocamos nossa máscara social mais comum: a máscara da aceitação da opinião comum.
Que máscara é essa?
É aquela cujas respostas nós já "aprendemos" que serão aceitas, que já sabemos que são admiradas. Então dizemos o óbvio: "eu não quero quantidade, eu quero qualidade".
A grande questão, o ponto, o problema no entanto é que essa tal "qualidade" que acreditamos ser nosso desejo não está verdadeiramente dissociada da quantidade que negamos e afirmamos não nos influenciar. Então, postamos uma foto e desejamos (secretamente) que ela alcance muitas visualizações, comentários, curtidas e compartilhamentos. Como isso não acontece tão facilmente assim, apelamos para o discurso "o que importa é a qualidade", mas bem no fundo sabemos que nem sempre isso é verdade.
Continuamos, por exemplo, a confiar mais na notícia ou opinião de alguém que tenha mais "curtidas" e "compartilhamentos" do que em alguém que não tem nenhum ou tem poucos. Uma notícia é verdadeira (ou passa a ser vista como verdadeira) quando é dezenas de milhares de vezes compartilhada como "verdade" e acreditamos nisso apenas por isso, algo como: "tanta gente curtindo e compartilhando, só pode ser verdade".
E assim caminhamos, mais e mais distantes de nós mesmos e isso vai nos distanciando também da felicidade que buscamos.
Pergunte-se:
O que acontece quando finalmente você consegue "ter" a foto com um grande número de "curtidas"?
A resposta é a mesma que todos nós já conhecemos através de outra analogia: Você anda a pé ou de ônibus e deseja ter um veículo próprio. Então você compra um carro popular, mas agora você deseja um importado. Depois de um tempo, você compra o importado, mas agora você quer uma Ferrari. E quando você consegue a Ferrari passa a sonhar com um iate. E quando conseguir o iate? O sonho termina? O desejo acaba? O objetivo último é alcançado? A felicidade finalmente surge? Claro que não. Depois vem o navio, o jatinho, o avião, uma viagem para ver o planeta Terra pelo espaço, etc. Nunca nos satisfazemos realmente.
Por quê? Porque não podemos controlar a felicidade, mesmo que tivéssemos o poder sobre algo e usássemos esse poder para tenta controlar a felicidade, mas ela não pode ser controlada. Mesmo que usássemos todo nosso intelecto, nem mesmo conseguiríamos entendê-la, nem se usássemos o raciocínio lógico, abstrato, racional, etc. Pois, em verdade, números, racionalidades e lógica não podem entender emoção. A felicidade também não pode ser comprada, mesmo que fosse rico tentasse comprá-la, mas a felicidade não tem um preço, pois seu valor é inestimável.
Nem mesmo os famosos, as "estrelas", os artistas, conseguiram a felicidade através de mimos como aplausos, autógrafos, assédio e se manterem sempre em evidência. Pois a felicidade não se encontra na badalação e sim nas coisas simples. Deve ser por isso que é comum pessoas badaladas e que gostam de estar no meio da multidão dizerem se sentirem sozinhas.
Os jovens que adoram viver o prazer, curtir o momento constantemente, apreciar o imediato, também percebem com o passar do tempo (para alguns uns poucos anos, para outros alguns vários anos, mas uma hora chega para todos) que toda a alegria, adrenalina e emoções passageiras se esvaiam, pois a felicidade não se encontra no prazer imediato. Gritam os jovens "tenho mais é que aproveitar e curtir a vida!", mas a felicidade não é uma curtição passageira.
E há ainda aqueles que acreditam cultivar a felicidade. Sem se dar conta se isolam em seus próprios mundos tentando evitar a todo custo os desprezares, a decepção e até fazem do discurso "não se deve criar expectativa para não se decepcionar" como uma filosofia para toda a vida. Mas a verdade sobre isso é que essas pessoas são cruas, não sabem lidar com decepções e por isso tentam sempre evitar a expectativa porque o machucado dói e elas não suportam. Isso faz com que você nunca aprenda e, assim, passa a viver fugindo do que é realmente viver. Assim como a alegria e a surpresa fazem parte da vida, a tristeza e a decepção também fazem. E não se aprende só com alegria, a tristeza ensina bastante também, talvez até mais. Então, não basta sair dizendo por aí que ao dispensar suas expectativas você estará livre de problemas, pois a felicidade embora possa ser encontrada num lindo e tranquilo jardim de flores, não é neste jardim que ela cresce.
Quantas histórias conhecemos de pessoas que viveram tranquilamente, puderam ter tudo o que desejam e mesmo assim não se sentiram felizes? Por quê?
Porque um dia se entediaram da monotonia que toda a segurança de vida, a evitação da emoção de ter uma expectativa (pois sim, ter expectativas é viver com emoção, é ser surpreendido com alegria ou com tristeza... e não é a tristeza também uma emoção?).
A verdade é que a felicidade cresce em meio aos transtornos da vida. Só apreciará verdadeiramente um jardim florido, calmo e tranquilo aquele que nunca esteve lá ou cujo caminho não foi dos mais fáceis.
E não adianta ser pragmático, a felicidade não aceita heroísmos do tipo: "A partir de hoje acordarei bem-humorado", "De hoje em diante serei uma pessoa calma", "Daqui para frente serei uma pessoa feliz, com alto astral e cheia de autoestima". Grande engano! No calor do dia a dia todas essas intenções se evaporam.
E onde está afinal a felicidade que procuramos?
A resposta é tão óbvia que chega a ser até ridículo: a felicidade está dentro de nós mesmos. E o motivo de não a encontrarmos é porque não acreditamos nessa resposta, pois ela parece óbvia demais e absurdamente ridícula. É como guardar algo dentro de um baú e pedir para o baú procurar o que você guardou dentro dele. O baú procurará em todos os lugares, exceto nele mesmo. Olhando por esse lado é óbvio que nunca encontrará. É preciso acreditar que ela está dentro de você para que você pare de procurar em outros lugares.
A felicidade é uma emoção e ela precisa de treinamento e educação para poder se manifestar de forma constante e duradoura e não repentina e passageira.
Exemplos de treinamento e educação da felicidade:
Você treina a felicidade quando perde uma pessoa que ama e depois aprende a superar essa perda. Você educa sua felicidade quando a perda da pessoa amada não torna seu coração amargurado e você consegue voltar a amar aqueles que ainda estão com você.
Você treina sua felicidade quando diante de uma frustração você consegue elaborar outros meios que possibilitem continuar a prosseguir e alcançar seus objetivos. Você educa sua felicidade quando as frustrações da vida não o fazem perder a cabeça e você consegue manter a calma e a tranquilidade mesmo em situações difíceis, de modo que sua visão das coisas não se feche e ainda possa enxergar uma solução possível para o momento.
Você treina sua felicidade quando após uma derrota não se dá por vencido e decide ficar mais forte para que, na próxima vez, quando passar por uma situação similar, esteja mais preparado e confiante para conseguir um melhor resultado. Você educa sua felicidade quando diante de uma derrota não culpa e nem aponta o dedo para o outro, assumindo a responsabilidade do fraco e isso servirá de motivação para que continue a evoluir como ser humano.
Somente alguém plenamente feliz é capaz de gerenciar seus pensamentos e fazer de uma pequena flor um espetáculo aos seus olhos.
Indicações de livros sobre o tema Felicidade:
O livro conta a história de um homem que foi pobre toda sua infância e sonhava em ser médico e ficar rico. Ele consegue isso, mas percebe que a felicidade não estava em ter esse status. E só depois de refletir um pouco e apanhar muito da vida é que ele percebe onde estava a felicidade que tanto procurava. No entanto, uma pessoa que ele ama e que o ama está em seu último momento de vida e ele corre para vê-la e poder olhar para ela e conversar com ela uma última vez antes que ela durma para sempre.
Como eu era antes de você (Jojo Moyes) A história é naturalmente triste, faz você refletir sobre como é a vida que levamos e que cada um faz sua história. Faz pensar na sua dificuldade e como ela parece tola diante da dificuldade de Will (preso em uma cadeira de rodas). Uma história sensível, amável e emocionante.
O poder do hábito (Charles Duhigg) O livro explica o funcionamento dos hábitos e como podemos mudá-los para melhorar as nossas vidas. Uma vez que certos hábitos tem um enorme impacto na saúde.
Indicação de filmes que abordam o tema Felicidade:
Dança com lobos (tem o livro também, mas aqui vou estar a indicar o filme, pois ele está muito bem representado). Durante a Guerra Civil, um jovem soldado pratica um ato ousado e é considerado herói e vai servir por sua escolha em um lugar com forte predominância do povo Sioux. Ao chegar no local, ele descobre que está sozinho e com o tempo começa a ter contato com o povo nativo (Sioux). O que ocorre é uma aculturação às avessas, influenciado pela cultura indígena ele aprende a viver uma vida plena e cheia de sentido e valores que são muito maiores do que ter dinheiro, riqueza ou status social. Uma história muito bonita e inspiradora.
Pequena Miss Sunshine Conta à história de uma família que extrapola as loucuras. Se você pensa que sua família não é normal e talvez seja a mais louca que existe. Ver esse filme pode fazer você mudar de ideia. O pai desenvolveu um método de autoajuda que é um fracasso, o filho mais velho fez um voto de silêncio, o cunhado é um suicida e o avô foi expulso de uma casa para idosos por usar heroína. As coisas começam a acontecer quando a filha caçula desajeitada Olive é convidada para participar de um concurso de misses, chamado de "A pequena miss sunshine". Durante três dias e pela primeira vez em muito tempo, todos deixam suas diferenças de lado para ajudar a pequena garota a vencer o concurso e para isso eles precisam cruzar os Estados Unidos numa Kombi amarela, velha e enferrujada, ultrapassando todos os obstáculos que a vida colocará em seus caminhos. O filme te fará rir, chorar, se emocionar e refletir sobre o papel da família na sua vida.
Minha vida O proprietário de uma empresa de relações públicas, Bob, tem um casamento sólido e feliz, sua mulher espera um filho, mas ele descobre que é portador de um câncer inoperável e tem os dias contados. Com isso, decide gravar um vídeo para a criança. Bob decide também descobrir o motivo de não se relacionar bem com sua família, principalmente com o pai. E é justamente com ele (pai de Bob) que ocorre a cena mais linda.