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Aprendendo sobre Inteligência Emocional assistindo filme (sob uma perspectiva psicológica)

  • Muzak Ayala
  • 12 de abr. de 2016
  • 7 min de leitura

karate kid

Filme - Karatê Kid - sob uma perspectiva psicológica

Esse é um filme bem conhecido e que fez muito sucesso no fim dos anos 80. Acredito que a principal característica do filme é a "superação". No entanto, a história de Daniel é um pouco mais do que isso. É uma história que ensina, sobretudo, saber lidar melhor com suas emoções, a conhecer a si mesmo e isso é que gera crescimento.

Um pouco sobre o filme (breve sinopse para quem ainda não conhece o filme ou não se lembra muito):

Daniel é um jovem que sofre bullying (sim, bullying, vejam que bullying não é coisa desse século, já existia lá nos anos de 1980, na verdade até antes disso), e apanhava de uns colegas do bairro (e da escola) que eram praticantes de karatê. Mas um dia, numa das surras, foi "salvo" pelo senhor Miyagi (mestre de karatê). O rapaz pede então ao senhor Miyagi que o ensine karatê para poder se defender sozinho, porém o velho não acha que só aprender a brigar irá solucionar o problema. Então, ele vai até a academia dos outros rapazes e convence o sensei deles desafiando-o num duelo no torneio de karatê entre os discípulos do sensei e Daniel, agora dito como discípulo do Sr. Miyagi. E, além disso, com uma condição: durante os 6 meses até o torneio ninguém poderá arrumar briga com Daniel, justificando que assim atrapalharia nos treinos do jovem. O sensei da academia aceita o desafio fazendo todos os seus alunos concordarem que não podem bater no Daniel até o dia do torneio.

Aprendendo Inteligência Emocional com o Sr. Miyagi:

Na realidade, o senhor Miyagi usou dessa estratégia para poder ensinar Daniel não apenas o karatê, mas dar a ele o verdadeiro sentido de "aprender a se defender" e que para isso o jovem precisava, antes de tudo, conhecer a si mesmo. Conhecer a si mesmo significa saber qual é o seu verdadeiro potencial, ter um objetivo a ser alcançado na sua vida, crescer (não apenas financeiramente - em números -, mas crescer em amadurecimento, valores, sabedoria).

Por exemplo:

Todas às vezes que o Daniel toma uma atitude ou realiza uma ação, o senhor Miyagi pergunta para ele com que base ele tomou aquela atitude ou ação, se foi à luz da razão ou da emoção.

O método do senhor Miyagi é justamente estimular que Daniel busque resposta. Ele estimula o jovem a pensar qual o talento que ele tem e como esse talento poderá ajudá-lo a dar a resposta para solucionar o problema.

Na primeira cena quando fala sobre ensinar karatê, Daniel pergunta qual a faixa (grau de habilidade) do Sr. Miyagi, ele, inicialmente, responde brincando com o número do seu cinto. Mas posteriormente diz: "Daniel san... karatê aqui (aponta para a cabeça), karatê aqui (aponta para o coração), karatê aqui (aponta para a cintura e faz sinal negativo)... você compreende?". Nesta cena, fica claro que aprender as coisas devem ser feitas com base na razão e na emoção, ou com inteligência e por amor ao que faz, ao que se deseja aprender e conhecer, não apenas por status ou "números".

Estamos tão acostumados a viver por status que nos esquecemos disso (momentânea e corriqueiramente) em nossos dias. Então, damos importância para "faixas", como diploma, carro do ano, frequentar lugares chiques e caros (muitas vezes sem ter condições para isso), achar que uma roupa é melhor só pela marca (ignorando qualidade do tecido, por exemplo).

Quantas vezes alguém conhecido nos diz algo importante e simplesmente ignoramos? Por quê?

Porque era nosso conhecido, nosso irmão, nossos pais, primos, vizinhos, etc., que em nossa mente não são especialistas no assunto. Então pagamos caro para ir numa consulta com um especialista, para nossa surpresa, ouvir exatamente o que nosso conhecido já tinha afirmado. E depois, dessa lição, finalmente aprendemos, certo? Errado! Daqui uns meses voltamos a cometer esse mesmo deslize. Porque nos preocupamos sempre com "faixa" (nível de status).

No filme, o que faz Daniel aprender, definitivamente ou de forma mais duradoura, é o pacto sagrado que o Sr. Miyagi faz com ele:

"Eu prometo treinar você, você promete aprender. Eu falo, você faz, sem perguntas".

Pode parecer bobagem, mas às vezes questionar demais, fazer muitas perguntas pode atrapalhar mais do que ajudar.

Um bom exemplo é a aprendizagem de um novo idioma. Todos sabemos disso, crianças aprendem muito mais facilmente um novo idioma do que adultos.

Já se questionou por que isso acontece?

Quando se ensina, por exemplo, como se faz pergunta em inglês dizemos que o verbo vem na frente do sujeito: "Can I help you?". Por quê? No momento isso não importa, estou dizendo que é assim e agora você precisa aprender isso. Mas por quê? Você insiste... Perceba que responder a sua pergunta não muda nada.

A resposta? Não existe na verdade uma resposta última para isso, em inglês é assim porque é assim, porque a língua inglesa possui uma origem, uma história e um desenvolvimento diferente da língua portuguesa. Nenhum americano ou britânico saberia dizer o motivo de ser assim. É assim porque "sempre" foi assim e ponto final.

Você pode não perceber agora, mas esse é o motivo pelo qual você está impedindo de ter progresso. Ao desejar saber as minúcias e os porquês disso e daquilo, sem se dar conta, você desacelera seu aprendizado. Crianças, principalmente as pequenas, aprendem rápido e com facilidade, porque não perdem tempo questionando essas minúcias, você diz que é assim e assim elas aprendem (e olha que crianças gostam de fazer perguntas, mas na hora de aprender algo, elas não fazem perguntas minuciosas, elas simplesmente assimilam).

Lembre-se do pacto do Sr. Miyagi nesse momento: "Eu prometo treinar você, você promete aprender. Eu falo, você faz, SEM PERGUNTAS". Acredito que agora a frase deve ter feito mais sentido na sua cabeça, né?

Sem perguntas, porque perguntar demais atrapalha, você precisa aprender algo em determinado tempo (Daniel precisava aprender karatê em 6 meses), responder todas as minúcias não dará tempo de aprender, de obter o progresso que você precisa e talvez não consiga, e até desista. Responder essas minuciosidades não fará você assimilar, é apenas uma "ilusão cognitiva" que criamos: acreditamos que aprendemos melhor quando perguntamos o porquê de algo. Na realidade, a resposta dessa pergunta apenas nos ilude, fazendo-nos pensar que agora que sabemos, aprendemos. Mas aprendemos verdadeiramente apenas quando fazemos e não quando ouvimos a explicação sobre algo.

E as perguntas nunca serão respondidas?

Talvez um dia. Já ouviu aquela frase que diz "tudo tem um tempo certo na vida"?

É exatamente assim que suas perguntas e dúvidas serão respondidas, no tempo certo. E o tempo certo geralmente ocorre quando você já aprendeu e nem se deu conta. Isso acontece no filme também. Durante o treinamento do Sr. Miyagi, o jovem Daniel poliu carros, pintou cerca e encerou o chão. Depois de se cansar dessas atividades, acreditando que não tinha aprendido nada de karatê, foi pedir uma justificativa do Sr. Miyagi. Este mostrou a ele que estava aprendendo karatê o tempo inteiro, tudo o que fazia era na verdade técnicas de defesa. E ainda fez demonstração: atacando o jovem e o obrigando a defender-se com o que tinha aprendido (mas não havia percebido).

Se o Sr. Miyagi tivesse que explicar minuciosamente tudo o que ensinava a Daniel, eles perderam muito tempo, provavelmente o jovem nem acreditaria que encerar o chão era para aprender a defender-se de socos e chutes. Isso suscitaria uma dúvida e um questionamento de eficácia e, talvez, não conseguisse se concentrar para realizar a atividade corretamente. Daniel questionaria por que lavar carros ensinaria ele a se defender. Depois que o Sr. Miyagi explicasse a razão, Daniel questionaria se não seria melhor ensinar dando golpes diretamente e fazendo-o defender-se. O Sr. Miyagi explicaria que antes era preciso praticar muito aqueles movimentos, Daniel perguntaria um novo "por quê?" e seus porquês não terminariam "nunca". Então, cale-se e aprenda, olhe e faça, não perca tempo fazendo minuciosidades desnecessária. No tempo certo tudo fará sentido. Esta foi a máxima do Sr. Miyagi.

Uma das cenas onde isso fica muito claro é quando o senhor Miyagi sai para pescar. Numa canoa, ele pede para que Daniel se equilibre nas bordas da canoa, na ponta do lado oposto em que ele está sentado e pede para que treine os movimentos de defesa. Durante isso segue o diálogo que dá todo o sentido ao filme:

Daniel: Você quer dizer que às vezes ficava com medo de lutar? Miyagi: Sempre com medo. Miyagi odeia luta. Daniel: É, mas você gosta de karatê. Karatê é uma luta. Você treina pra lutar. Miyagi: Isso você pensa? Daniel (pensando): Não. Miyagi: Então porque treinar? Daniel (reflete um pouco): Para não ter que lutar. Miyagi (rindo): Miyagi tem esperança pra você.

E é isso mesmo, toda a razão do motivo que levou o senhor Miyagi a treiná-lo, era justamente para que ele, no futuro, não precisasse disso, não precisasse mais sair brigando com outros rapazes todas às vezes que cruzassem os caminhos. Que é o que aconteceria se simplesmente ele tivesse aceitado ensinar técnicas de luta a um jovem só porque levou umas surras. O jovem usaria isso para revidar, para se vingar. Não teria aprendido o sentido que as técnicas marciais pregam: a disciplina, o conhecimento, os valores.

Perceba que há sim todo um trabalho sobre as emoções de Daniel, o sentido, saber lidar com as frustrações, não ser vingativo, não usar o que sabe para se sentir superior, etc. Trata-se de uma história de aprender, crescer, evoluir, amadurecer e humildade. Seu mestre nunca responde as perguntas de forma direta, mas procura fazê-lo pensar sobre como se sente em relação ao que questiona, ao que deseja saber.

"Para quê você luta?" "Para que não tenha que lutar mais"

Você pode levar isso para tudo na vida, como exemplo temos as causas sociais: por que lutamos pelos direitos iguais? É para que no futuro não precisamos fazer isso. Para que as pessoas tenham em seu seio esse princípio.

Que pessoas?

Aqueles que virão depois de nós, nossas crianças, nossos filhos, nossos jovens, aqueles que herdarão as terras desse mundo. E é assim que a humanidade caminha para que aquela tal de "utopia" chamada de "um mundo melhor" realmente aconteça. Não será nossa geração que viverá para ver isso, e é por isso que lutamos hoje.

O que o filme ensina, em uma síntese, que você deve se concentrar menos no que pensa sobre as coisas e mais como se sente a respeito delas. Quando fazemos isso, nos sentimos mais seguros para explorar áreas da nossa vida que nunca exploramos antes. Quanto mais se aprende sobre si mesmo, mais conseguirá perceber quais os motivos que o levaram a tomar determinadas decisões.

 

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