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Muzak Ayala

Relacionamentos e Depressão


Falando um pouco sobre a relação entre "relacionamentos e depressão", é bem complicado, por sinal. Na própria literatura geral sobre depressão, o que mais se diz é que diálogo é tudo, isto é, que se deve conversar muito com o parceiro. Mas não há nenhum "norte" quando uma das partes, simplesmente, não está pré-disposta a conversar (ou quando um dos lados é pouco compreensível ou ainda está exausto demais para isso). Havendo, portanto, poucas explicações a respeito, mas uma dessas poucas, a mais interessante se chama "incerteza relacional". Nesta, aponta-se três fatores:

1- Incerteza pessoal:

A própria pessoa levanta questões e dúvidas sobre seu próprio envolvimento pessoal. Isto é, os seus sentimentos se tornam tão confusos (por se sentir tão para baixo) que ela não tem mais certeza de gostar do outro ou não. Há momentos que ela pode dizer que sim e outros que ela não consegue sentir esse "sim", então passa a acreditar que não, criando a dúvida sobre o que ela mesmo sente pelo outro. Claro que a pessoa percebe essa oscilação e por isso a "incerteza pessoal" sobre o relacionamento amoroso.

2- Incerteza do parceiro:

Apesar do nome "incerteza do parceiro", estamos falando da pessoa que está com depressão. A percepção é que essa incerteza do parceiro se trata de deduzir o quanto o companheiro está envolvido com o relacionamento ou não. Como sua percepção se torna mundana e essa percepção não é sólida o bastante devido as mudanças de sentimentos constantes, a pessoa passa a deduzir que o parceiro não está tão envolvido quanto deveria, mesmo quando o parceiro está muito envolvido, é difícil identificar isso com tanta clareza. Por isso, passa-se a considerar não ter certeza sobre os sentimentos do parceiro (se o outro gosta ou não, se o outro só está comigo porque sente pena, se o outro só está esperando o momento ideal para cair fora, ou se o outro simplesmente está sofrendo com tudo isso também... tudo passa a ser uma possibilidade a considerar).

3- Incerteza vinculacional (ou incerteza do vínculo):

É quando a pessoa com depressão passa a definir o status do relacionamento e o nível do vínculo afetivo, assim deduz o quanto ainda o relacionamento vai durar ou não. Como a depressão o faz se sentir triste, na maior parte das vezes, sua dedução é que o relacionamento uma hora vai terminar.

Uma observação sobre esse terceiro fator: é que a pessoa com depressão, claro, é consciente da dificuldade que é o outro conviver consigo e por isso é comum concluir que uma hora o outro pode não mais aguentar (desgaste da relação, etc.), pois reconhece a dificuldade.

Sobre como o tratamento pode melhorar o relacionamento baseada nesses três fatores:

  • Focar o tratamento nessa "incerteza relacional". Para casais, é importante saber se o psicólogo/psiquiatra sabe sobre a "incerteza relacional", pois isso demonstra que ele pode ajudar ou não o relacionamento durante o tratamento. O tratamento em si ajuda a aliviar os sintomas de depressão, pois deixa a relação mais leve de uma forma geral. Quebra o círculo vicioso que se instala com as incertezas sobre o relacionamento, proporcionando uma maior sensação de bem-estar.

  • Alguns questionamentos internos como "será que fulano gosta mesmo de mim?" ou "será que eu gosto mesmo de fulano?", ou ainda "será que nosso relacionamento vai durar?"; passam a ser trabalhados com maior foco na terapia.

Alguns pontos importantes, a saber:

  • Sintomas severos de depressão, deixam a pessoa mais estressada e a incerteza no relacionamento é maior.

  • Quanto maior o nível da incerteza relacional, menor é a satisfação com a relação.

  • Mulheres com depressão costumam apresentar questionamentos nos três fatores, então o tratamento deve se levar em conta os três fatores sempre.

  • Homens, apenas alguns poucos apresentam questionamentos nos três fatores, a maioria é mais na "incerteza pessoal". É importante identificar em qual dos fatores estão os questionamentos e focar o tratamento neles.

...

Observação última: é evidente que nenhuma explicação engloba todos os casos, já que o ser humano é singular, mas talvez isto ajude a orientar alguns.

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